17 janeiro 2006

Um dia de seca, outro de enchente

Após uma noite de chuva torrencial, o dia é de sol e calor escaldante. Há algumas semanas é assim. Foram meses de seca devastadora, a sombra da fome. Agora são enchentes. Desde o Natal, 5.000 hectares de produção agrícola já foram perdidos. Em Maputo, as ruas viram poças e lamas e lixos flutuantes. A incongruência desta terra. Alguns dizem terra amaldiçoada – que não aceita sol nem chuva –, mas sabemos que isso não é exclusividade daqui. Penso no nosso sertão ou nos nossos rios e são paulos sem estrutura para escoar tanta água.

O que é peculiar daqui, no entanto, ainda é um estereótipo para mim. Difícil desconstruir. A idéia de que o “africano” (apesar da generalização soar mal) vive cada dia e assim se organiza, assim se entende. A palavra planejamento (ou planificação) soa como paralelepípedo dito por criança. Imposto de fora, vira documentos e pragmatismos não-implementáveis em tantos níveis burocráticos, políticos, tradicionais. Tudo sobreposto de forma desordenada e multi-hierárquica. Tudo dicotomizado no hoje versus amanhã; na lógica e a não-lógica; na seca e a enchente.

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