12 novembro 2007

38 semanas, ou quase lá

Nada do que reclamar. A vida tem estado à sombra, água fresca e pensamentos zens. No clima atual de “qualquer hora é hora”, termino meus trabalhinhos com a calma que pedi a deus. Há meses (1 ano, talvez), engendrei este filho que foi a pesquisa sobre como acesso a transporte afeta em acesso a serviços de saúde para pessoas com AIDS na Namíbia. Fui lá, desenvolvi a idéia, captei financiamento, coordenei a festa e eis que agora só coloco tudo no papel. O filho já está aí, sendo falado nas rodinhas de profissionais que respeito neste País onde resolvi amarrar (ainda que provisoriamente) meu burro. Muito bacana, mas agora chega. Agora parto pra outra bruma, esta da maternidade, do milagre, da congregação que só se descobre quando se carrega um filho no ventre. Têm me dito assim, as mulheres ao meu redor, irenes, amigas, conhecidas, desconhecidas até. Entre para a seita e aceite que a vida é mais do que essa liquidez contemporânea. E olha, tenho aceito... e tanto... e muito. Minhas tardes de relaxamento são tomadas por algumas leituras e sabe-se lá porque Bauman acabou novamente na mesa de cabeceira. Como é estranho pensar em tudo tão líquido, a vida, o mundo, o amor (principalmente o amor), quando o caminho agora me revela uma solidez de laços afetivos que é deveras diferente do que vivi até então. Pensei que se não tivesse vivido sempre uma vida muito pós-moderninha de mais, provavelmente não estaria aqui. Não porque não viria para “África”, afinal os trabalhos missionários começaram muito antes do mundo se globalizar deste modo avassalador (cabe ressaltar que missionária é algo que eu não sou). Mas sim porque provavelmente teria casado há 5 namorados atrás (ou 10, quem sabe), e agora estaria lendo a coluna de Clarice Lispector com vozes de Ilka Soares, ensinando como manter o bom casamento e educar os filhos. E, veja bem, a conclusão que chego. Após tanta liquidez de corpo, espírito e alma—28 anos ininterruptos—, cá estou, pensando em como fazer as unhas entre as mamadas, em como entender choros e saber prover segurança incondicional, em como regar o amor a cada dia para que jamais esmoreça. Nada mais sólido, nada mais trabalhado a cada dia, nada mais aprendido e desaprendido com o afinco que se é necessário. E, bem dito seja, nada mais distante (ou digamos, distante o quanto é possível) deste liquidificador mortífero que a vida se tornou. Salve, salve. E que a boa hora venha.

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