19 dezembro 2007

Quase Natal

Eu não sei que dia é hoje, só sei que é quarta-feira. Os dias da semana se diferenciam em função dos dias que Maria vem, e os dias que Michael fica em casa. De resto, é tudo um borrão de ciclos, sem dias e noites claramente definidos, sem ontem, hoje ou amanhã. Alguns são dias ótimos, felizes, lindos, apaixonantes. Outros são assustadores – pela falta de capacidade de consolar um choro inconsolável, pela canseira de (eventualmente) amamentar de hora em hora, pela saudade de quatro horas de sono seguidas, pela exaustão por ser e estar. Não sei o dia, mas sei que é quase Natal. As mensagens no meu inbox não me deixam esquecer, os posts nos blogs alheios fazem referência, a árvore na sala e as luzes que piscam e piscam incessantes são a certeza de que este será o primeiro Natal da Julia.

Enquanto amamento, seja de dia ou de noite, fico imaginando como será, quem será, o que dirá Julia, na hora que tiver que dizer algo. Por ora a bichinha já é bastante falante, digamos assim—seus chorinhos e resmungos não nos enganam. Mas já faz uns outros sons também, vez por outra, e (alguns) sorrisos já são espontâneos. Às vezes, após horas no colo num dos momentos inconsoláveis, quando já estamos todos à beira de um ataque de nervos, ela coloca as mãos nos ouvidos como quem diz ‘pára de cantar esta musiquinha insuportááável’. E nestas horas, meus caros, há que se parar.

Nos momentos calmos, especulamos. Julia será de uma época em que o sonho americano não será mais sonho universal, e que o pesadelo comum será o terrorismo. Saberá muito mais sobre Islamismo do que nós sabíamos alguns anos atrás. Talvez aprenda mandarim por necessidade, trabalhe com indianos, viaje pela África. Talvez resolva ser uma executiva bem sucedida e freak em Nova Iorque, e caberá a nós aceitarmos. Viverá num mundo sem água. Talvez goste de bichinhos e colecione pedras (seria ao estilo do pai), talvez tenha “Lúcia já vou indo” como livro preferido da sua infância (como foi com sua mãe). Ou talvez não. Com certeza terá uma bicicleta em cada estadia. E saberá cantar tanto Alecrim quanto Kokaburra com desenvoltura. Talvez resolva viver ao estilo líquido dos dias de hoje, talvez opte pelo que há de sólido no mundo (se ainda houver). As especulações são vastas, os desejos muitos. Tudo assim... infinito, beirando o sonho e dando o tom das tais brumas da maternidade. As brumas para as quais achei que estava preparada. Mas não, ninguém está. Para além das brumas, não há nada. Não agora. Mas já é quase Natal.

3 comentários:

Unknown disse...

Cla, uma mãe que escreve coisas tão bonitas falando de seus desejos para filha, seus sonhos, dúvidas... está absolutamente preparada sim para a maternidade. Dá para sentir amor nas suas palavras e quase dá para ver seus olhos brilhando pensando em tudo isto olhando para os olhos da Julia. Pode faltar água, pode faltar planeta, pode faltar tudo mas tá claro que amor nunca vai faltar para a Julia. E ela vai mergulhar fundo!!!! Beijos!!!

Ana Valéria disse...

tem pouco tempo que acompanho o blog e já adoro... também espero uma menina para o início de março e sua mensagem me emocionou... Júlia é linda e desejo muitas felicidades a ela a vc e seu companheiro! realmente, tem muito amor por aqui.
bjs
saúde e paz!

Anônimo disse...

lindo... suas palavras sempre me tocam, me acalmam e me dao uma vontade louca de estar ai do seu lado!
Vc e julinha estao lindas! Essa foto esta algo de divino!
Lov u all!
Bjus enormes no seu coracao, com direito a abraco, cheiro, brum na barriga e mordidinha de leve... nas duas dessa vez ta?