09 outubro 2008

...eu sou assim...

Quinta-feira à noite. Quero escrever no blog, não quero, quero, não quero, abro o dashboard, começo, apago, aí preguiça. Aí vai. Tinha que estar finalizando um artigo para uma revista daqui da Namíbia. Finalizando nada, minto. Tinha que estar começando. Até agora é apenas um copy-and-paste daqueles clássicos (pelo menos é plágio de mim mesma), mas eu estou é cansada. O artigo sobre políticas de transporte na área de saúde, já nem sei mesmo o que quero dizer, sabe quando a gente perde o argumento? Pois é, perdi e estou aqui dando três pulinhos. Haja pulinho. A revista é legal, chama-se Insight, tipo uma Economist bastante crítica do governo daqui, fala de políticas e política, economia, etc. Não sei qual é a equivalente no Brasil. Não sei mais muito do Brasil e sim, fico com vergonha, portanto mudemos de assunto. O computador aberto enquanto eu cozinho pra Julia, falo no messenger com minha irmã há milhas e milhas de distância (outra exaurida), e respondo e-mails de trabalho. Michael viajou hoje, de novo, e eu só mesmo pensando no churrascão que faremos no sábado aqui em casa. Adoro tomar estas decisões, de convidar gente pra nossa casa, mas na hora h, fico sempre com preguiça e pensando em colocar vassoura atrás da porta, que é pras pessoas irem embora logo. Julia com seu terceiro dente despontando. Hoje vi um nenêm, no vizinho do trabalho, 2 semanas mais velho do que a Julia. O guri já tinha 8 dentes e andava. Grandão. A Julia nem sequer engatinha, se arrasta, e só agora está na direção de engatinhar. Mas ela tenta, e tenta, e assim vamos. O que não a deixa por menos. Conversa, aponta pra tudo. Tá nesta fase de apontar (fase?). Bate palminhas, dá tchauzinho, vira a cabecinha de lado e põe a língua de fora sempre que quer tirar uma risada alheia. Adora ler livros, passar a mão nos desenhos, e colocar o dedo em tudo que é buraquinho (a gente tem vários livros com buraquinho). E se a gente pergunta onde é o olho?, ela põe o dedo no nariz. Mas o detalhe: ela responde assim quando perguntamos em inglês E em português. O que ela mais ama no momento são aviões. Mesmo quando estamos dentro de casa e ela não consegue ver. Se um avião passa, ela pára o que tiver fazendo, fica séria e olha pra gente. Aí a gente fala "é o a-vi-ão", aí ela aponta pra cima. Como tem um aeroporto nas redondenzas, imaginem isso acontecendo muitas, muitas vezes no dia. Sempre a mesma rotina. Na natação, ela nada totalmente debaixo d'água, dá 4 digamos "braçadas" sozinha, soltinha na água. E quando colocamos na beirada, estica os braços pra frente e se joga na água. E eu fico assim, achando ela o má-xi-mo, pagando este mico de descrever tudo, só porque é um orgulho extremo. Mas é mesmo incrível isso, de como cada bebê tem seu ritmo, e como nós mães (ok, digo por mim) conseguimos entrar na neura mesmo assim. Filho é algo de inexplicável mesmo, muito amor, muito intenso, muito pleno. Tudo toma um sentido diferente na vida. E sim, isso é o óbvio. Mas eu sou óbvia, e falar o óbvio é muito bom. Dá um sentido danado. No trabalho agora temos 3 pessoas novas. Olha nem dá pra explicar o que se passa no trabalho. É tanta coisa, um redemoinho. Ou mais do que isso. Honestamente acho que nunca trabalhei tanto na minha, de modos que quem me conhece de outros carnavais terá uma idéia do nível do redemoinho. Estou um trapo, exausta, detonada, mas sigo no meu papel super-mãe, super- profissional e ainda super-esposa, quem diria. Sim, falta tempo pra depilar, cortar o cabelo, cortar as unhas (fazer unhas então, nem se fala), escrever no blog, lembrar de aniversários. No momento, me empenho em: me dedicar à Julia o máximo possível. Dirigir uma organização que cresce na velocidade da luz (eu e maridón estamos trocando papéis no trabalho, e não é que acabei nesta função de chefa-major, mega estressada e descabelada dirigindo tudo? Ele anda agora de consultor pelo mundo afora: chique esse homem, ferrada eu!). Pedalar pra o trabalho praticamente todos os dias. Acordar todo dia antes da 6hs que é pra curtir a manhã com os cachorros, o jardim, o marido e a filha antes de encarar o batentão. Ah sim, e organizar a vida das tais duas adolescentes que comentei num post anterior, que em janeiro se mudarão para Windhoek. Estamos batalhando 2 bolsas para elas numa escola privada daqui (e vai rolar!). Mas isso é papo pra outro dias, que afinal hoje basta. Então, sabe, genteeeeem. É tudo assim, um esforço diário e conquistado a cada dia. Um, dois, três leões por dia. E no dia que não tem leão, me viro com rinoceronte, elefante, tô encarando o que aparecer. E nos dias que não rola... me recolho aos meus aposentos. Por isso que eu às vezes choro um pouquinho quando estou voltando pra casa e tem um sol se pondo. Não choro de tristeza, ou porque o sol se põe, afinal isso acontece todo dia. Não sei porque choro, mas às vezes a gente é assim, chora, e isso é bom. Dou berros quando um carro me tira um fino, e xingo palavrões em inglês, mas tudo bem porque ninguém ouve. Mas pedalo, porque aí vou deixando tudo, toda a tensão por aí, nas ruas da vida, e chego em casa suada, mas feliz. Agora o que me irrita, sabe, é como eu sou uma arapuca em pessoa. Caio nas minhas próprias armadilhas. Veja bem, navego na internet, nos blogs e flickrs e emails da vida, e aí invejo, mas invejo mesmo minhas amigas ou as que são desconhecidas mas que acompanho de certa forma. Invejo no pequeno, sabe, porque sempre me parece que são tão lindas, descoladas, de unhas feitas, sem barriga, bem resolvidas, bem vestidas, magra, inteligentes, bem amadas, ricas, bem sucedidas, articuladas, informadas, felizes, sorridentes. Mesmo sabendo que outras pensam algumas coisas assim de mim, porque afinal a grama do outro é sempre mais verde e todo mundo é chegado numa self-arapuca. Mas ainda assim, eu invejo num ponto de quase sofrer, nuns dias mais, noutros menos. Invejo e vou lá, lavar louça e remoer minha amargura, como se fosse uma mártire, pobre coitada, óh. Fico resmungando até que o Mike chega e me salva. Porque sim, o Mike sempre chega e me salva. Aí eu penso oxalá meu rei, esse moço é uma coisa de tirar suspiro, de dar arrepio, de apertar de beijos, de salvação. E é meu marido. Bom, né? Ando digna do meu amado Almodóvar. Uma verdadeira mujer al borde... Teatro, la vida es puro teatro, falsedad bien ensayada, estudiado simulacro. A-do-ro. Agora são 22:45hs e eu me prometi que já estaria na cama nesta hora. Mas ainda tenho que terminar o papel de cozinheira. E como eu não ia escrever no blog porque não tinha tempo, eu acho que agora preciso de fato partir. Vai entrar no ar assim mesmo, num suspiro só, ou num espirro só, sem revisão, sem edição, sem tempo ou vontade de medir palavras ou grau de exposição. Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim.

2 comentários:

hg disse...

Autêntico e lindo. Tive vontade de ter um filho, uma esposa e pedalar. Com tua família sabes que, no fundo, tens uma versão pessoal dos Jardins Suspensos da Babilônia.

opiniática disse...

Ai Ai..... meinha querida super-amiga... eu também choro, rio e desatino. Mas me conforta saber que você e a tua família existem, e que de certa forma, eu faço parte dela! Te amo!! beijos