02 junho 2009

"a humanidade faz a sua própria história"

o que Eric Hobsbawn espera sobre o futuro:

"Se a crise ambiental global não for controlada, e o crescimento populacional estabilizado, as perspectivas são sombrias. Mesmo se os efeitos das mudanças climáticas possam ser estabilizados, produzirão enormes problemas que já são sentidos, como a crescente competição por recursos hídricos, a desertificação nas zonas tropicais e subtropicais, e a necessidade de projetos caros de controle de inundações em regiões costeiras. Também mudarão o equilíbrio internacional em favor do hemisfério Norte, que tem largas extensões de terras árticas e subárticas passíveis de serem cultivadas e industrializadas. Do ponto de vista econômico, o centro de gravidade do mundo continuará a se mover do Oeste (América do Norte e Europa) para o Sul e o Leste asiático, mas o acúmulo de riquezas ainda possibilitará às populações das velhas regiões capitalistas um padrão de vida muito superior às dos emergentes gigantes asiáticos. A atual crise econômica global vai terminar, mas tenho dúvidas se terminará em termos sustentáveis para além de algumas décadas. Politicamente, o mundo vive uma transição desde o fim da Guerra Fria. Se tornou mais instável e perigoso, especialmente na região entre Marrocos e Índia. Um novo equilíbrio internacional entre as potências — os EUA, China, a União Européia, Índia e Brasil — presumivelmente ocorrerá, o que poderá garantir um período de relativa estabilidade econômica e política, mas isto não é para já. O que não pode ser previsto é a natureza social e política dos regimes que emergirão depois da crise. Aqui as experiências do passado não podem ser aplicadas. O historiador pode falar apenas das circunstâncias herdadas do passado. Como diz Karl Marx: a humanidade faz a sua própria história. Como a fará e com que resultados, muitas vezes inesperados, são questões que ultrapassam o poder de previsão do historiador."

Parte da entrevista dada por ele pra Revista Sem Terra, divulgada nos sites da Alê. Vai lá ler...

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Na entrevista, Hobsbawn cita Amartya Sen, que indico aqui para quem não conhece -- seus artigos (e principalmente o livro Development as Freedom) foram, para mim, das melhores leituras que já fiz na vida. Colocou a caixola pra pensar, criar, produzir, AGIR. Acho mesmo que o "meu descobrimento" de Sen é uma das origens de muitas de minhas escolhas. Fiquei até emocionada agora ao pensar, e rapidamente o capturei na estante. Voltará para minha mesa de cabeceira, pois está na categoria tem quer ler vez ou outra, que é pra não se acomodar na vida jamais. Afinal de contas, a história já está sendo feita, e somos TODOS autores ativos.

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