Vila Algarve. Passei na frente muitas vezes, nas idas e vindas ao mercado. A casa com seus azulejos portugueses, porte colonial e ares de assombração. Ao perguntar, estórias diferentes me foram contadas, porém todas em torno de suas tristes lembranças. Vila Algarve foi sede da PIDE, a polícia secreta portuguesa. Reconheci um pouco da sensação que se tem ao passar perto do DOI-CODI, no Centro do Rio. Vozes e soluços de tortura.
Vila Algarve desabitou-se por muito tempo. Em 1989, foi ocupada por 10 famílias de refugiados de guerra mas, sendo propriedade do Estado, desabitou-se novamente. Desde então, desabita-se estranhamente, em forma de degradação, tristes memórias e assombrações.
Vila Algarve desabitou-se por muito tempo. Em 1989, foi ocupada por 10 famílias de refugiados de guerra mas, sendo propriedade do Estado, desabitou-se novamente. Desde então, desabita-se estranhamente, em forma de degradação, tristes memórias e assombrações.
Não sei se é uma medalha
José Craveirinha, poeta moçambicano(1967)
Alguma vez
um cigarro aceso sentirá o delicioso
sabor de te fumar de repente
o ombro direito?
Pois
sobre isso eu juro
que tudo é pura mentira.
Juro
que nunca um cigarro LM
apagou a sua idiossincrásica boca de lume
no calor escuro da minha omoplata.
E também juro
que nunca plagiei um cinzeiro moçambicano
sentado a cheirar o bafo da própria cinza
com o subchefe de brigada Acácio
um deus fantasmagórico envolto
na especial nuvem de tabaco
mistura de Virgínia com pele.
E também confesso
que se esta invenção tivesse acontecido
muito provavelmente seria em mil novecentos
e sessenta e seis à tarde numa certa Vila Algarve
enquanto pela duodécima vez
eu abanava a cabeça
e dizia - Não sei!
Por acaso
a mancha desta mentira está.
Não sei se é uma medalha.
Mas não sai mais.
um cigarro aceso sentirá o delicioso
sabor de te fumar de repente
o ombro direito?
Pois
sobre isso eu juro
que tudo é pura mentira.
Juro
que nunca um cigarro LM
apagou a sua idiossincrásica boca de lume
no calor escuro da minha omoplata.
E também juro
que nunca plagiei um cinzeiro moçambicano
sentado a cheirar o bafo da própria cinza
com o subchefe de brigada Acácio
um deus fantasmagórico envolto
na especial nuvem de tabaco
mistura de Virgínia com pele.
E também confesso
que se esta invenção tivesse acontecido
muito provavelmente seria em mil novecentos
e sessenta e seis à tarde numa certa Vila Algarve
enquanto pela duodécima vez
eu abanava a cabeça
e dizia - Não sei!
Por acaso
a mancha desta mentira está.
Não sei se é uma medalha.
Mas não sai mais.
2 comentários:
bah, muito bom o poema.
Legal Clá.
Manda mais literatura dessas terras.
E o contexto histórico/político foi muito legal.
Parabens.
Beijos
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