05 setembro 2006

(superficial visão) sobre as incongruências sul africanas

Sumi. Sumi e voltei corrida, sem tempo de respirar. Muito trabalho, muito networking, muitas idéias, pouco tempo (pouco dinheiro também, mas me disseram que isso não importa). Acabo de voltar da conferência em gênero, transporte e desenvolvimento que aconteceu em Port Elizabeth, na África do Sul. A conferência foi boa e me inspira a fazer alguns breves (e muuito superficiais) comentários sobre a África do Sul:

*É um país de paradoxos, dinamismo, crescimento, pobreza, violência.

*Da mesma forma que existem políticas claramente direcionadas para fortalecer a "economia negra" (o chamado black economic empowerment, espalhado por todo sul do continente africano), existe também para colocar mulheres em posições de tomada de decisão. Uma coisa inacreditável. Imagina que 51% do Ministério de Transportes (setor tipicamente masculino) são mulheres jovens e, em grande parte, negras.

*Nadando contra a correnteza, temos a anti-política para combate ao HIV/AIDS. A África do Sul é responsável por 33% do número total de pessoas vivendo com AIDS no mundo. Aproximadamente 5 milhões de crianças são órfãs como resultado, e a expectativa de vida está despencando de 51 anos em 2000 para 36 anos em 2010. No entanto, a sociedade civil briga com unhas e dentes para ter um maior envolvimento do Governo, que já chegou a dizer que a relação entre HIV e AIDS não é clara. Ok, a posição já mudou e existe um investimento e uma certa boa vontade política, mas ainda muito falho pois focado mais em prevenção do que em tratamento (e, pelo que entendo, estes dois focos devem caminhar juntos e não um a despeito do outro). Então fica esta questão no ar, como um País pode ser tão progressista por um lado, realmente engajado em mudar relações de poder, etc., e por outro ser tão... estancado?

*Eu não gosto da África do Sul. Admito. Tenho implicância, acho todo mundo meio bôer, gorducho e racista. Sim, são comentários de um simplismo barato mas tendo passado por Moçambique e Namíbia é difícil mesmo gostar. O apartheid se espalhou por todos os países ao redor e deixou um legado horroroso de desigualdade e pobreza. No entanto, eu preciso tirar meu chapéu e reconhecer que é um País que está passando por uma fase admirável de crescimento. Sinto não ter em mãos dados concretos, mas acreditem que passar um dia com sul africanos negros (justiça seja feita, me refiro à classe que tem acesso à educação) diz muito mais do que números. É tudo muito dinâmico, um País com muita grana, um povo muito engajado e numa tentativa ininterrupta de dar um novo tom ao processo histórico. Fora os investimentos incríveis em infra-estrutura—esperem até a Copa de 2010 e vocês terão uma idéia clara do que estou dizendo.

* Junto com Índia, China e Brasil, África do Sul é um País chave na reviravolta (?) sul-norte. Haja fôlego para acompanhar o mundo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esta é uma realidade (HIV) assuntadora e ao mesmo tempo admirável.
Assustadora por ser tão intensa e admirável porque a população ainda consegue reagir com intuito de reverter a situação!
Pelo menos eu acho ...
Show de cultura!!!

Anônimo disse...

Clarisse: sua percepção é acertada. A empresa (brasileira) em que trabalho tem um cliente na África do Sul que está entre os mais eficientes na operação do nosso produto. É um país muito bem preparado, a despeito da sua história recente, em que boa parte de sua população foi mantida à parte do desenvolvimento. A questão da AIDS é, sem dúvida, uma mancha que eles têm de trabalhar para corrigir logo. Aliás o nosso Brasil é um caso de sucesso nessa questão, talvez um modelo que eles poderiam copiar!