Pois bem. Hoje, sábado, acordamos cedo e fomos passar a manhã na escola de deficientes visuais. É que há alguns meses implementamos um mini-projeto com bicicletas tandem (aquelas de dois lugares). Periodicamente, um grupo de jovens voluntários visita a escola e passa a manhã pedalando as tandems com as crianças. Algumas crianças enxergam um pouco, outras não enxergam nada. Além da diversão, é uma oportunidade para a criançada participar de um tipo de atividade física que não lhes é comum. Bem, fomos visitar o projeto para ver a quantas anda. Chegando lá, me deparei novamente com diversos albinos. Cansada da pergunta no ar, resolvi fazer uma pesquisa básica e descobri que, de fato, na África sub-Sahariana há mais albinos do que “a regra”.
Lembrando um pouco das aulas de genética, albinismo é transmitido de pais para filhos por genes recessivos. Ou seja, tanto a mãe quanto o pai precisam ter o gene. Na Europa, aproximadamente 1,4% da população tem o gene, ou seja 1 em cada 70, o que resulta no albinismo sendo bem raro – apenas 1 em cada 17.000 pessoas será albino de fato. Na África, um tipo específico de albinismo (OCA2) é muito mais comum. Entre 2,9 e 4,5% dos africanos negros carregam o gene que gera este tipo de albinismo (1 em cada 35-22 pessoas). Resultado: 1 em cada 2.000-5.000 africanos são albinos (copiado e traduzido do African Albinos Foundation).
Fico imaginando como deve ser a vida dos africanos albinos. Mesmo no inverno é preciso tomar banho de protetor solar por aqui... E isso, obviamente é artigo raro, de luxo. Tem protetor nas grandes cidades, mas tudo caríssimo. Eu mesma ainda não comprei nenhum mas os preços já me assustam de antemão. Nas vilas, os albinos sempre vestem manga comprida, usam óculos escuros e chapéus. Mesmo assim, são cheios de machucados e manchas na pele, além de aparentarem ser mais velhos. Após a visita de hoje entendi que muitos albinos não sofrem apenas de ausência de melanina, mas também de anomalias na retina e estrabismo. Por isso tantas crianças na escola de deficientes visuais. Muitos são também surdos. Isso sem falar no imenso estigma, já que muitas vezes os albinos são vistos como má sorte ou doentes mentais.
Ainda assim, com todas estas constatações e realidades diversas, foi uma manhã super feliz. Porque felicidade é assim... se faz.
**update: eu esqueci de comentar que trabalho com um rapaz albino (me parece ser um albinismo mais brando), e até mesmo um dos Parlamentares representa a minoria (e, convenhamos, ver minoria representada no nível mais alto do governo não é coisa óbvia em país algum).