Monotematismo

Eu acordo no meio da noite e, após meu snack habitual, rolo e rolo na cama sem dormir. O nariz entupido não melhora nem com meu potente balsam chinês, milhões de almofadas ao redor me imobilizam, e a musiquinha do Kokaburra que eu canto para o Peanut não sai da minha cabeça. Cinco frases sobre o diabo do passarinho australiano de forma incessante na minha mente. Tenha santa paciência. Daí eu tento me distrair e começo a pensar em posts interessantes. Se eu fosse uma garota ixxperta, tinha o computador do meu lado, prontinho para ser alimentado por todas as idéias mirabolantes que me visitam a noite. Acordo no dia seguinte e póf. Nem sequer lembro do que se tratava, mas lembro disso, "era algo interessante".

Veja bem, este blog um dia teve o objetivo de ser interessante. Era para ser uma coisa assim, meio temática, impressões minhas sobre a vida por aqui, etc. Mas experimenta fazer isso quando você está a milhas e milhas distante das pessoas queridas. Agora experimenta fazer isso quando você está vivendo uma coisa louca e intensa, que chama casamento seguido de gravidez, na Namíbia, com um quase marido australiano que você conheceu na África do Sul quando ainda morava em Moçambique. Pois é. Vai lá e tenta. Depois me conta. Ouvi na semana passada que "o blog estava ficando pessoal de mais" (eu sei que não foi exatamente uma crítica, mas não deixou de virar uma pulga atrás da minha orelha). A pulga reproduziu e não só me atormenta pelo "pessoal" como pelo fato de eu saber que é também "monotemático" sobre mim mesma.

Eu sou uma pessoa monotemática, sempre fui. Meu monotematismo da hora é óbvio. Quando tento variar, vou para o monotematismo seguinte que é com o que trabalho, as coisas que leio diariamente, essas coisas de violência contra a mulher, AIDS, desenvolvimento rural, acesso à saúde, transporte para todos, etc. Eu nunca fui muito criativa, então não exijam de mim novidades a parte disso, pliiz.

Mas eu prometo que vou tentar. Por exemplo, posso passar a ler com mais atenção a newsletter diária que recebo sobre o caos no Zimbábue, e quem sabe falar um pouco mais sobre isso. Interessa? Posso também começar a falar sobre a Austrália. Como estou a ponto de expandir minha cidadania, ando lendo jornais australianos e sou constantemente fisgada pelas manchetes que tratam das questões aborígenes, o governo Howard, a seca de anos que agora virou inundação. Por fim, posso falar do meu assunto predileto nos dias atuais: fraldas de pano. Por que eu decidi usar fraldas de pano com meu rebento/a, para espanto de todos, e vou te dizer que ando encantanda com o debate (que inclui assaduras, grana, uso de água, impacto no meio ambiente e fraldas de fibra bambu). É, eu sei, a essência do monotematismo não varia muito, mas pode se tornar algo interessante. Fica a promessa. ;-)