Balanço da semana

Mais uma semana sozinha em casa, mas está quase acabando. O sozinha e a semana. O Michael está no Caprivi, a pontinha nordeste do País. Diz assim: Caprivi strip. Ah como eu queria estar lá também, parece ser uma das áreas mais lindas que há. Mas médico diz de jeeeito nenhum, e quem tem coragem de encarar? Malária a dar com pau. Porque é bem mais úmido, cheio de rios e florestas um pouco mais densas, o lar perfeito para os mosquitinhos. Imagina que Caprivi faz fronteira com Angola, Botsuana, Zimbábue e Zâmbia. Como outras demarcações no vasto continente, é um dos detalhes que faz o mapa da Namíbia ser pra lá de esquisito, pois foi uma barganha alemã para ter acesso ao Rio Zambézi, o 4º maior rio africano que vai do Zâmbia até Moçambique, desembocando no Oceano Índico. Num rápido telefonema com Michael, ainda há pouco, ele me informa delicadamente que está numa celebração num barco, e admito que isso me deixou pra lá de desolada. Sim, sim, eu sei, é celebração de fim de semana árdua de trabalho, e amanhã ele "começa" a voltar encarando 1,200 km de estrada, tudo bem. Mas isso não me deixa menos desolada. Eu também queria ver hipopótamos.

Caprivi strip

Enquanto isso, sozinha e barriguda, eu trabalho aqui a dar com pau, e o Peanut me lembra no fim do dia que "mamãe, eu tô aqui, você não pode trabalhar tanto assim". Aí eu jogo tudo pro alto e dou uma de dondoca, pelo menos por umas horinhas. Ampliei meu repertório de músicas que agora inclui a História da Gata (Saltimbancos), e assim fico na banheira ou deitada conversando com o Peanut e cantando. Quando ele vai dormir, me agarro num livro e em 3 dias se foram as 600 páginas do último Harry Potter. Como acabou muito rápido, estou migrando para meu segundo page-turner do mês (adoro esta expressão, page-turner), que é a autobiografia do Nelson Mandela. Cara, de arrepiar. Ambos me dão medo antes de dormir, porque em noite de vento até o Michael tem medo no apagar das luzes, e por isso nas duas últimas noites eu me dei ao luxo de deixar os cachorros dormirem dentro de casa comigo. Eles não reclamam nem nada, cada um arranja seu tapetinho e só vez com outra vêm me procurar no quarto pra me dar uma lambidinha no pé. Além desta estratégia, antes de dormir eu páro de ler essas coisas mais sinistras (seja Harry ou Nelson, cada um a sua maneira), e dou uma rápida bizoiada no Up the Duff, o livro mais hilário que eu já vi sobre gravidez (um guia acompanhado de um diário de uma grávida histérica). Presente enviado pela cunhada lááá da Austrália. Morro de rir, me identifico totalmente com a histeria da mum-to-be, e assim evito pesadelos sobre bruxarias ou apartheid.

E a semana... rolou, passou, e tá aí, quase no fim.
Me alimentei como pude (sem cozinheiro fica difícil).
Dormi o quanto deu.
Li tudo que quis.
Fiz menos yoga do que gostaria.
Trabalhei mais do que devia.
Comprei roupa de grávida.
Senti desejo de comer bagel em Brick Lane.
Recebi triste notícia de um belo sorriso de amigo a menos entre nós.
E observei, como quem não quer nada, a barriga crescer um pouco mais. Serão 6 meses completos na semana que vem, o que me causa um friozinho na espinha (eu ainda não tenho muita coragem de pensar em como serão os minutos finais desta jornada).