21 novembro 2007

Ai que canseira.

Eu sei lá, mas acho que o momento da vida está me deixando meio irritada com alguns fatos da realidade. Leio este artigo no Globo Online "Entre mulheres comprometidas e 'desimpedidas', quem conquista a vaga no mercado de trabalho?", e fico pasma. Não pelo tema em si, porque sei que o fato de ser casada, recém casada, solteira, mãe, jovem ou mais velha, influencia na hora de ser empregada por uma empresa. O que já é abominável, claro. Mas me irrito ainda mais com a falta de reflexão sobre o assunto. Quer dizer, o artigo constata o fato, dá algumas "dicas", e fica por aí mesmo. Eu sei que é mais um artiguinho de Globo, não dava pra esperar muito mesmo. Mas a falta de reflexão não está somente na mídia mainstream, está em nós, pessoas, e é aí que me canso.

Uma especialista em recrutamento e seleção declara que "Esse não é um critério explícito nem vale para todas as funções. Mas, se houver dois ou mais candidatos com igualdade de experiência, formação e capacidade técnica, as empresas tendem a optar por mulheres solteiras ou até homens por acreditar numa disponibilidade maior para o trabalho". Crítica? Reflexão? Análise? Referências sobre movimentos contra? Referências sobre como o tema tem sido tratado em outros países? CRÍTICA? CRÍTICA? CRÍTICA? Zero. Quer dizer, deve achar aceitável.

Um outra diz que "Cabe às mulheres exercitarem cada vez mais sua capacidade multifuncional para se aprimorar e ter sucesso em suas várias carreiras, de mãe, mulher, profissional, filha etc." Ou seja, se vira malandra. Ninguém tá no mundo pra te facilitar a vida não. Igualdade de gêneros é papo pra boi dormir. Afinal, nunca vi homem reclamar de ter que se desdobrar em suas várias carreiras, pai, homem e profissional... Simplesmente porque isso não lhes causa nenhum impacto na vida. Então o homem pode continuar a ser quem é, tranqüilão, enquanto a mulher tem que virar máquina mesmo. Tem que ser ágil, eficiente, educada, no salto alto, cuidar dos filhos, ser sexy, profissional à altura dos outros (solteiras ou homens). Tem que ser tudo. E mais, se possível.

O que me assusta é todo mundo achar super normal este ritmo de vida que se leva. Aliás, EU sempre achei super normal. Pra falar a verdade, achava isso mesmo até ir morar em Moçambique. Tem um toque de glamour, sei lá. A mudança, no entanto, não tem nada a ver com o lugar pra onde fui (e onde estou agora). Aos poucos fui entendendo que é totalmente possível ter qualidade de vida REAL sem ter tanto de tudo que o mundo oferece. Hoje em dia vivo com mísero salarinho (reclamo à beça) mas vou te dizer, tenho uma qualidade de vida um milhão de vezes melhor do que antes (ou do que provavelmente teria se tivesse voltado ao Brasil e ao ritmo de vida frenético quero-tudo e sou-tudo da vida cosmopolita).

Trabalhar 24x7 virou moda ou o quê? É bonito? É bacana? Tenho a impressão de que tempo para gastar com a família, com um bom livro, ou até mesmo com ninguém mas consigo mesmo está longe de ser cool. O lance é se descabelar, reclamar do trabalho o tempo inteiro, não ter tempo pra os filhos, comer fast food todo dia, ser mais uma vítima da doença dos tempos modernos (stress), encaixar a todo custo sua 1 horinha do dia na frente de um espelho na academia de ginástica, e achar tudo isso... normal. Ah não. Devo estar ficando velha, mas este mundo está me cansando.

5 comentários:

Ana Roberta disse...

Clarisse... é aquele velho modelo que insisto em bater (coloco em todos os blogs que invento*): sucesso e felicidade = dinheiro e vida profissional fantástica.
eu concordo contigo em todos os aspectos. luto muito, aqui no Brasil, para provar para familiares e amigos que uma vida simples e feliz não requer milhões e, muito menos, o tal do "sucesso profissional". por sinal, acho que "sucesso profissional" só traz problemas: mais salário... menos horas com a família... menos tempo pra comer (quem dirá fazer sua própria comida)... menos tempo pra si.
e então, do que vale tanto dinheiro e nada de vida?
o mundo anda mesmo muito complicado de entender.
mas tô contigo... pelo menos somos duas a pensar assim.
beijocas.
fico feliz pelo bebê (ou bebéia) que nascerá: tem uma mãe-mulher pra lá de esclarecida. e feliz. :)

* http://semvirgulas.blogspot.com/2007/10/farol.html#links

Anônimo disse...

Divorciada, mãe de dois filhos. Em Portugal, igual. Se vira, malandra. As iniciativas de apoio à maternidadetêm a forma de um subsídio quase igual a nada, a mensalidade de uma creche equivale quase ao salário mínimo nacional e uma mulher que cumpra horário não consegue levar E pegar o seu filho a horas. Ridículo. Encontrei o compromisso trabalhando como freelancer em casa, para poder controlar o meu horário, e aprender a viver com pouco e a não gastar tudo, porque vida de frila é na corda bamba. Um triunfo. Consegui ensinar aos meus filho (15 e 7 anos) que é melhor ser que ter. Iupi. Obrigada pelo post.

Belita disse...

Amén.

Anônimo disse...

Mulheres... mulheres... mulheres...
Mais uma. BEM VINDA. WELLCOME

Um hino para ela:

JULIA
The Beatles
Lennon/McCartney

Half of what I say is meaningless
But I say it just to reach you,
Julia
Julia, Julia, oceanchild, calls me
So I sing a song of love, Julia
Julia, seashell eyes, windy smile, calls me
So I sing a song of love, Julia

Her hair of floating sky is shimmering, glimmering,
In the sun
Julia, Julia, morning moon, touch me
So I sing a song of love, Julia
When I cannot sing my heart
I can only speak my mind, Julia
Julia, sleeping sand, silent cloud, touch me
So I sing a song of love, Julia
Hum hum hum...calls me
So I sing a song of love for Julia, Julia, Julia

Ouça a música aqui:
http://letras.terra.com.br/the-beatles/299/

Suzana Elvas disse...

Oi, Clarisse;

Em primeiro, parabéns pelo "Prêmio Vaca" :o) Puxa, fiz bico porque ainda não ganhei.
Faço minhas as palavras da Ana Maciel: divorciada, duas filhas pequenas, sem família na cidade, sozinha, ouvindo do juiz que determinou a pensão que "o pai precisa de dinheiro pra viver". A mãe não precisa, obviamente.
E assim vamos cumprindo jornadas de 16 horas de trabalho, sendo tudo e mais um pouco. Mas depois de tudo eu te digo: faria tudo outra vez, porque minhas filhas são o melhor que fiz nessa vida.
Bjs

Suzana