17 abril 2009

entre porcas e parafusos

São 7:46 da manhã e eu tenho 2 horas pra fechar uma tradução que estou fazendo, de um manual de mecânica de bicicleta, do inglês para o português. Gente, TENHA DÓ. Não sei porque cargas d'água eu aceito estas incumbências malucas. Mas o causo é que temos uma parceria com a UNHCR (que vem a ser o Alto Comissariado da ONU para Refugiados), no campo de refugiados de Osire, que fica há uns 300km de Windhoek. O fator meio bizarro é que 76.5% dos 6.500 refugiados no campo são angolanos que há MUITO já não carecem de refúgio... O restante vêm da República Democrática do Congo, Burundi, Sudão, Etiópia, Libéria, Congo-Brazzaville, Ruanda, Quênia e Tanzânia. O campo foi criado em 1992, e em 1998 chegou a ter uma população de 20.000 refugiados. Fazemos parte de uma iniciativa de oferecer cursos técnicos, para aumentar a empregabilidade dos residentes (fora e dentro do campo -- o local é uma cidadela, para a qual se precisa de visto de entrada e saída).

Eu acabei aceitando a tradução (que eu mesma demandei, exxperta), porque é um manual super técnico, e seria uma chatisse achar alguém aqui com este conhecimento tão específico. Não que eu o tenha, obviamente não tenho, mas de certa forma não achei que seria tão sofrido. Além do que, uma partezinha do conteúdo eu já havia traduzido quando estava em Moçambique, pois distribuímos bicicletas para camponesas que precisavam aprender como mantê-las e consertá-las, coisa e loisa. Mas estas 26 páginas que encaro neste momento me custaaaaaram a sair. Tudo bem, saiu, e ainda por cima evitando todos os gerúndios possíveis, pois português angolano não se ouve muito gerúndio. Mas não foi mole não, entender exatamente a diferença entre um locknut e um lockring, que de certa forma são a mesma coisa (porcas de trava), uma pequena coisa que eu não sei identificar, se quer nomear, let alone traduzir para angolano.

Enquanto isso... nestes mesmos dias... eu me encontro com o Ministério de Comércio interior e estabelecemos uma parceria para um dos nossos programas de projetos de geração de renda. Me encontro também com 4 agências de desenvolvimento - americanas, espanhola, EU - para afinar projetos e financiamentos. Preparo tudo para auditoria financeira da nossa organização que acaba de começar. Preparo uma apresentação a ser feita para o Ministério da Saúde e demais agências envolvidas nos centros de teste de HIV (coordenamos uma campanha este ano para aumentar o número de testes em 17 unidades no país, e os resultados foram maior do que jamais visto nestas bandas... em algumas unidades, 614% maior, imaginem. Agora todo mundo quer replicar o modelo, obviamente).

Acho que ando deveras versátil, cheia de energia, e apenas com poucas olheiras (disfarçáveis com meu creminho da natura que já data de 7 anos).

***

Enquanto isso o maridão tá lá na neve, se deliciando com pirulito de maple syrup, dando entrevistas para TV, rádio, jornais, revistas canadenses, surtando no consumo com o qual não estamos mais acostumados (mas como não há muita bufunfa, o surto fica restrito, ufa). No lado de cá, eu e Juju estamos curtindo um momento mãe e filha. E está sendo uma delícia, ainda que cansativa a vida de mãe solteira. Quando o pai está por perto, "ela é do papai". E de preferência mamãe, não chegue perto, que meus chamegos são pro papai, e somente. Mas aí, não tendo pai por perto, ela decidiu compartilhar comigo todo seu amor e carinho e eu ando recebendo muitas cafungadas no pescoço. Tudo bem que nessa noite, o tal do dente que está a chegar (13º já) deixou a moçoila do-i-da, e passamos a noite toda acordadas, abraçadinhas entre choros e carinhos. Mas reclamar por quê, né não? Estou exausta, mas mesmo assim de bom humor. Vejam só..




Um comentário:

Carlos disse...

Ou muito me engano, ou locknut é a trava de catraca, e lockring é a trava do pinhão.

Parabéns pelo trabalho e pela família, que acompanho e pelos quais torço à distância sem que jamais tenhamos nos conhecido.