Andar pelas ruas de Maputo é relembrar aulas de história. Ou perceber como você não lembra de quase nada do que (supostamente) aprendeu na escola. As principais ruas são nomes de mártires, socialistas/comunistas diversos, eventos ou referências à história de Moçambique independente.
Para quem não se lembra, os movimentos de independência nos diversos países africanos foram marcados pela retórica socialista. Isso foi no auge da guerra fria. O principal mote dos movimentos era libertação do domínio de países imperialistas que estavam aqui extraindo matéria prima e oprimindo o povo. Então nada mais natural que o discurso tendesse para o socialismo (mas isso valeria um post exclusivo). Bem, em Moçambique o mesmo aconteceu, como bem indica Maputo.
Ao ir para o trabalho, passo pelas ruas Kim Il Sung, Mao Tse Tung e Kenneth Kaunda. Quando vou para Baixa, caminho por Vladimir Lenine e Karl Marx. Ironicamente, ruas de comércio intenso. Minhas caminhadas e corridas diárias são na Friedrich Engels, o calçadão com vista para o mar mais burguês da cidade.
Eu moro na Mártires da Machava que fica ao lado da Julius Nyerere, Ahmed Sekou Touré e Patrice Lumumba. Não se acanhem, eu também não lembrava nada destes nomes... aliás, nem sei se um dia aprendi sobre eles. Google está aí pra isso mesmo. Na minha rua fica a Praça dos Continuadores, que eu não tenho noção do que significa mas concluo que é uma homenagem aos que continuaram a luta. Há de ser.
Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique independente, é nome de rua, praça, patrono de diferentes lugares, e conta com uma série de estátuas e homenagens nos famosos murais da cidade. Machel está enterrado junto com Eduardo Mondlane em um monumento na Praça dos Heróis, onde fica um mural imenso com ilustração contando a luta pela independência.
Ninguém é mais onipresente do que Mondlane. Fundador do FRELIMO, a Frente de Libertação de Moçambique, o gajo conta com um museu que, apesar de se chamar Museu da Revolução, é praticamente sobre sua vida. Eu até pouco achava que a EDM, empresa de energia, era também uma menção ao seu nome. Nada mais óbvio. Mas acabei descobrindo que a sigla é simplesmente Eletricidade de Moçambique... confesso que fiquei decepcionada.
Tem também a Av. Guerra Popular, a Rua da Revolução, o Mercado do Povo, a Feira Popular, a Praça dos Trabalhadores. Maputo é inteira e monotematicamente assim. Nada condizente com o capitalismo selvagem ou com a política desenvolvimentista (externa) que reina por aqui. O que eu, particularmente, acho ótimo. Utopia faz bem à alma.
O outro lado da moeda, no entanto, é que muitas ruas são designadas por números e somente agora ganham nome. Só não me perguntem porque a rua onde trabalho, número 1.210, passou a ser uma insignificante Rua G. Isso, pra mim, fica na casa do inexplicável. Ou não...
Um comentário:
Verdade...
O que seria de mim sem o Google?
Mas fiquei muito curiosa com o Ou Não...
Qual seria a teoria?
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