18 março 2009

o tempo é como um rio

Tempo e mundo

O tempo passa, o tempo avança. No passar do tempo, passamos nós, no avançar do tempo, avança o mundo. O tempo nos contém, somos contidos – limitados e envolvidos pelo tempo. O tempo é nossa possibilidade de ser, de vir-a-ser. Mortais. Mundo. Nada é fora do tempo. Até a morte tem seu tempo de acontecer. No tempo se nasce, morre, vive-se. Passa-se, avança-se. Acompanhados de tudo, de tudo mais que também é no tempo. Tudo é no tempo. Nada é o tempo. O que é o tempo?

Dizemos: o tempo. O tempo está bonito, feio. O tempo passou rápido ou demora para passar. Vivemos todos num mesmo tempo, tudo se dá no tempo e com o tempo, afirmamos nos. E, no entanto, quem esta bonito ou feio não é o tempo, mas o céu, o ar, os ventos ou tempestades. Quem passa ou avança não é o tempo, mas nós: nós e o mundo. Vivemos aqui ou ali, numa casa, numa cidade, mas não vivemos no tempo. Quem está ao tempo não tem propriamente onde morar. Estar ao tempo é estar com todas as coisas, estar no mundo, mas simultaneamente, não está em nenhum lugar determinado, não possui nenhum teto consolidado e assegurado para se abrigar.

Esse é o tempo. Contém e transporta todas as coisas, o mundo, mas ele-mesmo não é propriamente nada, não está em lugar nenhum, não é um lugar qualquer. O tempo não é, mas contém. Não sendo um lugar, no entanto, transporta tudo que vem e que veio a ser. Contém tudo que será e o que, já não sendo mais, se retém, contido na memória (na memória do tempo, dizemos nós). O tempo transporta, transportando-se. Dizemos: o tempo é como um rio – o tempo passa e, passando, carrega e passa todas as coisas: nele tudo que chega vira passado. O tempo passa passando tudo. Mas se tempo não é, como pode “ele” passar? Se não é, como pode “ele” conter e transportar? Como pode representar, para nós o conjunto das coisas que ainda não sendo, um dia virão a ser – aquilo a que chamamos futuro?


"A experiência do nada como princípio do mundo"
Guy Van de Beuque

saudades

2 comentários:

Gabriela Caspary disse...

ufffaaaa!
saudades do nosso tempo!
beijos em todos.

Adriana disse...

adorei o texto!
"o tempo... o tempo eh tao fulgas, tao fulgas, que ja passou!" ;)
visitarei mais vezes!